Na recente visita oficial do presidente chinês Xi Jinping ao Brasil, foi anunciada uma nova parceria financeira entre o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o China Development Bank (CDB).
O contrato, no valor de RMB 5 bilhões (aproximadamente R$ 4 bilhões), representa o primeiro empréstimo em moeda chinesa, o Renminbi (RMB), com prazo de até três anos.
Apesar de ser celebrado como um avanço na cooperação entre Brasil e China no âmbito dos BRICS, a história de outras nações em parcerias semelhantes com a China revela uma dura realidade que merece atenção.
Ao longo das últimas décadas, a China tem intensificado sua presença econômica em países em desenvolvimento, especialmente na África.
Embora inicialmente apresentados como oportunidades para fomentar o crescimento, muitos desses empréstimos acabaram se tornando armadilhas econômicas.
Países como Zâmbia, Sri Lanka e Quênia têm sofrido as consequências de contratos onerosos, onde a incapacidade de honrar os pagamentos resultou em dívidas impagáveis, perda de infraestrutura estratégica e aumento da pobreza.
Em 2017, por exemplo, o governo do Sri Lanka foi forçado a entregar o controle do porto de Hambantota à China por 99 anos após não conseguir cumprir os prazos de pagamento.
Da mesma forma, na Zâmbia, a crescente dependência de financiamentos chineses deixou o país com uma dívida insustentável, culminando na perda de controle de setores-chave da economia, como energia e transporte.
Esses casos mostram um padrão preocupante: a China apresenta seus investimentos como parcerias benéficas, mas, na prática, eles frequentemente resultam em dependência econômica e política, prejudicando o desenvolvimento sustentável dos países envolvidos.
No caso brasileiro, a adoção de empréstimos em moeda chinesa pode representar desafios semelhantes. A justificativa de “proteger os exportadores” e “diversificar opções” não aborda os riscos inerentes a parcerias financeiras com a China.
O histórico de taxas abusivas, cláusulas opacas e sanções severas em caso de inadimplência deve ser um alerta para o governo e para a sociedade brasileira.
Além disso, a promoção de alternativas ao dólar americano, defendida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pode acabar reforçando a dependência do Brasil à China, uma potência econômica que já exerce forte influência sobre as exportações brasileiras, especialmente no setor agrícola e mineral.
A diversificação da moeda é válida, mas não pode ser conduzida sem uma análise estratégica das consequências de longo prazo.
As experiências africanas mostram que a “cooperação” com a China muitas vezes transforma países em reféns de uma dívida insustentável.
Infraestruturas construídas com capital chinês frequentemente se tornam inoperantes devido à falta de manutenção, enquanto os altos custos dos empréstimos agravam os déficits fiscais.
No Quênia, por exemplo, o projeto da Ferrovia Standard Gauge, financiado por bilhões de dólares em empréstimos chineses, não gerou os retornos esperados, mergulhando o país em dívidas ainda maiores.
O Brasil, com sua história de crises econômicas e fragilidades fiscais, deve evitar cair nessa mesma armadilha.
Apostar em um parceiro econômico com um histórico de exploração financeira é uma decisão arriscada, que pode comprometer o futuro da economia nacional.
Enquanto o governo brasileiro celebra o empréstimo como um passo à frente no fortalecimento da parceria Brasil-China, é fundamental que o país considere as lições aprendidas por outras nações.
Parcerias econômicas devem priorizar o desenvolvimento sustentável e a independência financeira, e não criar uma nova dependência.
Se a experiência africana é um prenúncio do que pode ocorrer, o Brasil corre o risco de trocar um sonho de prosperidade por décadas de submissão econômica.
A pergunta que fica é: estamos dispostos a pagar esse preço?